domingo, 21 de dezembro de 2014

ENTÃO É NATAL


ENTÃO É NATAL

As luzes estão acesas. Não sei se em baixo ou em cima do velador. Talvez alguém as tenha colocado hasteada com toda pompa em algum candeeiro. Existem alguns que são mais ousados. Chegam até ostentar uma espécie de candelabro, procurando dar mais ênfase ao estereótipo de sua luminosidade. São as luzes do natal.

Há, porém duas lágrimas gotejando em um olhar. Já chegaram à metade divisória do rosto construindo em sua face uma espécie de estrada salpicada por declives que se acentuam em cada esquina que projeta sua emoção. São lágrimas de ontem, lágrimas de hoje e provavelmente se encontrarão com as lágrimas de amanhã.

Percebo que o vento sopra forte. Quer enxugar aquelas lágrimas. Mas acaba apenas empurrando-as para outro lugar. Há alguém querendo falar, mas uma fenda foi colocada em seus lábios. Então somente o sabor amargo e salpicado das lágrimas passa a ser seu instrumento de comunicação. Há se pudesse desabafar!

Do outro lado da esquina, muitas luzes indicam a disputa pelo primeiro lugar. Gavetas se abrem. Telefones tocam. Cédulas e cartões magnéticos ocupam a cada momento novos espaços. Brilhos... Muitos brilhos... Quase todos feitos de pó e cinza. Cinza de cadáveres rebuscados que apenas ali e naquele momento tiveram algum tipo de valor. Valor subestimado é claro. Coitados.

De repente mais duas lágrimas. Um novo tipo de fumaça esta a contaminar o ambiente. Tem o formato arrogante de gorduras, doces e licor. Muitos são os que exalavam tal fumaça. Parecem satisfeitos. Só muito tempo depois é que irão entender que tudo não passa de fumaça.

De repente, seus olhos percebem um outro tipo de luz. É como o esplendor de uma estrela. Parece ser de muito longe, mas ao mesmo tempo tão perto. Então suas lágrimas dão tom a um novo sentimento. É uma luz verdadeira. É algo tipo uma estrela da manhã que estava cada vez mais ali. Parecia querer lhe dizer algo. Até que finalmente disse.

De repente um reflexo de luz. Ataduras arrancadas. Lábios livres. Ouvidos bem abertos. Agora ele estava perto de alguém que podia ir além das lágrimas. Poderia; pensar, sorrir, falar, sentir, amar. Parecia muito bom.

Finalmente uma voz:
-Sabe! Até agora você viu, muita sombra, poeira e fumaça. O brilho é falso. As cores não são verdadeiras. Os motivos são mascarados. Eles trocaram o que era real pela fantasia. Foram longe de mais criando formulas que produzissem alguma espécie de analgésico psicológico para suas almas. Mas o efeito e passageiro. Apenas anestesia, mas não cura.

É por isso é que você não tem espaço junto deles. É por isso que você está com fome. É por isso que você está na rua. Não tem uma casa para se abrigar. É por isso que eles te consideram lixo. Consideram-te a escória da sociedade. Por isso que apenas te dão esmolas. Fazem isto só para tentar resolver o vazio que existe dentro deles mesmo.

Mas fica tranquilo. Não foi somente você que eles rejeitaram. Eu também fui rejeitado faz muito tempo. Eles me trocaram, por um tal de Papai Noel. Sabe por quê? É que este não fala. Não diz nada. Não tem sentimento. Não conhece a pobreza. Nunca teve entre os pobres. Vive somente em lojas e presépios, e no final acaba lhes dando muito lucro. É apenas mais um objeto.

Mas não chore. Eu não estou lá. Estou aqui com você. Permita-me apresentar. Meu nome é Jesus Cristo de Nazaré.


Obs: Hélio Machado é lincenciado em História e escritor com formação em teologia. (Autor do livro “Graça o estereótipo de Cristo)

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