No dia 7 de março de 2013, a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados elegeu Marco Feliciano (PSC-SP) para ser o presidente. Antes da eleição e após ela diversos veículos da imprensa brasileira produziram peças jornalísticas questionando opiniões e ações do deputado. Em editorial, o jornal Folha de S.Paulo, em espaço legitimamente dedicado à opinião do veículo, disse que Feliciano não tem condições de exercer o cargo na tal comissão. Por sua vez o jornal O Globopublicou reportagemdestacando bens pessoais do deputado/pastor, por mais que tende à incitação favorável aos que divergem de Feliciano, ao menos o ouviu e o texto tem trechos de imparcialidade.
É pregado nas salas de universidades a necessidade do jornalista não tomar lado ao escrever uma matéria, de buscar ouvir ambos pontos da situação e apresentar ao público um produto sem teor opinativo. Sabemos, porém, que na prática é diferente. A peça de O Globo é um exemplo disso, pois exerceu o bê-á-bá do jornalismo em quase todos os aspectos, mas a inclinação humana de escolher um posicionamento ficou implícita no produto final.
Entre tantos materiais colocados na praça, das mais variadas qualidades, se destaca a postura agressiva da revista IstoÉ contra Marco Feliciano. Ela, que exibe orgulhosa o slogan “independente” junto ao seu logo, externou opinião em duas reportagens publicadas em edições seguidas do semanário.
Razão perdida
Na edição de 8 de março (número 2260), a investida agressiva aparece no título da reportagem: “Maldição nos Direitos Humanos“, assinada por Alan Rodrigues. Recheada de posicionamentos julgadores e pareceres afirmativos, é um texto feito para não ser jornalístico. Não que Marco Feliciano seja imune à crítica – pelo contrário, diga-se –, mas note alguns trechos da matéria e observe se há jornalismo neles; lembrando que o famoso “outro lado” não foi ouvido:
“Com 40 anos, o pastor da Igreja Assembleia de Deus é conhecido por suas posições preconceituosas em relação a negros e homossexuais, entre outros temas.”
“Num mundo tolerante, qualidade que não parece agradar Feliciano, qualquer opinião deve ser respeitada, exceto quando elas se tornam apologia de crimes como o racismo e a homofobia. Pessoas como o deputado do PSC não deveriam sequer ser cotadas para integrar a Comissão de Direitos Humanos, quanto mais para presidi-las.”
A IstoÉ abraça o erro que a opinião comum reverbera, mas que uma empresa jornalística tem de evitar. Uma análise fria e isenta é suficiente para concluir que as declarações de Feliciano estão mais para burras e incoerentes do que racistas e criminosas. A revista oferece espaço para abastecer uma intolerância (religiosas) quando tenta defender outra intolerância (homossexual). Aí, a razão é perdida.
Sem o “outro lado”
Nessa reportagem são exibidas falas de parlamentares que se opõem a Feliciano: Jean Wyllys (PT-RJ) e Domingos Dutra (PT-MA). Dutra, importante salientar, é ex-presidente da comissão e na reportagem seguinte uma declaração sua foi ressaltada num “olho”, reforçando o viés da revista nessa questão.
A matéria da edição de 15 de março (número 2261) vem com o título “A sonegação de Feliciano“. A frase de Dutra é esta: “Apelamos para o Judiciário para impedir que a comissão vire um centro fundamentalista e retrógado”. É usada a técnica de pegar uma opinião de outro para mostrar qual opinião do repórter/veículo – a matéria é assinada por Claudio Dantas e Izabelle Torres.
Se bem que não precisava utilizar o malandro artifício. Observe trechos da matéria:
“O que esperar de um líder religioso que prega a intolerância sexual e o preconceito racial?”
“Trata-se da maior aberração política dos tempos recentes.”
Essa matéria também não teve o “outro lado”.
Os valores defendidos
Qualquer veículo de comunicação tem o direito de opinar e para tanto há um espaço para isso chamado de “Editorial”. Contudo é praxe acontecer o que a IstoÉ fez nessas últimas duas semanas; se bem que erros comuns não se justificam e nem se transformam em acertos.
A posição contrária da IstoÉ contra Feliciano é clara, mas por que palavras tão ofensivas? Qual é o motivo? Três repórteres diferentes, duas edições distintas e uma opinião que de nada contribui para uma revista que dita independente deveria agir como tal.
Visto que são nítidos os valores defendidos nos textos apresentados e qual oposição é pleiteada.
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João da Paz é jornalista, São Paulo, SP